domingo, 2 de novembro de 2014

Comentário do escritor Francisco Azevedo

“Que peça fantástica! Seu início já surpreende: a mulher que entra em cena com roupa extravagante, de turbante e óculos escuros – andar e gestos afetados que ostentam riqueza e insinuam uma sensualidade há tempos perdida. Com ar de despeito, vai logo dizendo que não fui ali para vê-la – ainda bem, penso comigo. E aí sabemos que se trata da poderosa e polêmica Dolores Olmedo, que sempre esteve envolvida com o homem e o artista Diego Rivera e que, portanto, faz parte da coleção de infernos de nossa Frida Kahlo. A informação traz alívio, é claro. Afinal, o que temos diante de nós é uma mulher artificial, arrogante, visivelmente preocupada com aparências. Nada a ver com Frida. E então, nessa abertura da peça, acontece outra surpresa, desta vez absolutamente arrebatadora: em sensível passe de mágica, Dolores Olmedo se transforma em Frida Kahlo! Aquela mulher, escondida nos panos e na maquiagem, se vai despindo dos tantos “disfarces” até ficar completamente nua. Pronto! Estamos diante da intimidade revelada de Frida Kahlo. Que contraste! A entrega (literalmente de corpo e alma) de Rose Germano à personagem é comovente. E que corpo belíssimo! Um mármore! O momento seguinte em que ela se deita na mesa-cama – e com aquela luz feérica do nosso Aurélio de Simoni – parece quadro célebre do museu do Louvre, um quadro em movimento. 
Difícil dizer, do que mais gostei ou o que mais me impressionou na encenação. Cada cena mais linda e expressiva que a outra. Todas sendo conduzidas por um texto que conta a história e informa sem ser didático... 
O canto no final que nos leva até uma outra Dolores (a divina Duran!) que nos enfeita a noite do nosso bem. A versão em espanhol (“para brindar la noche de mi amor”) ficou linda. O momento final em que ela é coroada! Cereja do bolo. Tudo perfeito: direção, atuação, luz, música, figurino... “Sai do Teatro com minha esposa, encantados, durante o jantar, não falamos de outra coisa.”...


12 comentários:

  1. Ontem fui ao teatro ver "Frida". É muito bom ver de pé um espetáculo tão desejado, tão sonhado. Fiquei emocionada várias vezes. Chorei. As soluções encontradas pelo encenador Luiz Antônio Rocha me deixaram de boca aberta em vários momentos pela delicadeza e pela qualidade de acabamento. Soluções simples e surpreendentes. Rose Germano Barbosa se entrega a uma Frida que muitos desconhecem e nos prende na sua dor, no seu amor. O figurino, de Eduardo Albini, é lindo! Parabéns a todos! Vida longa a "Frida"! VALE A PENA CONFERIR!

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  2. como pediu, um comentário sobre o que vi na segunda feira.


    “Para um coração gélido petrificado em um corpo insensível, sob uma visão de olhos míopes, em uma concepção simples, razoável diante de uma gota de conhecimento em um mar de informação, diria - poético, com um leve toque esmagador de arte, que nos faz vivo por alguns minutos em um deleite de emoções...”


    " Ao ver um corpo nu em cena, ao mesmo tempo que via uma transição de personagem, via a doação, entrega de um artista ao seus personagens; o corpo nu sobre a mesa me descrevia as incertezas, angustias e dores de um artista; jamais vista por seu espectador, que o vê como um mito/deus, onde na verdade sob o ponto de vista do ator/artista ali por mais vestido que esteja, esta nu, se sente nu; foi isso que vi. Uma atriz que a todo tempo se comunicava através de seu corpo, alma, pausa e olhar. Em minha humilde visão, Frida foi se construindo, e a atriz se desconstruindo ao longo do espetáculo. Ao fim não via a atriz mas sim Frida. O texto não parecia um texto, mas algo que surgia do inconsciente (boca) da atriz..." Não tenho muito a dizer palavras me faltam e conhecimento, me vejo um bebe nascendo, aprendendo e vivendo no teatro, com seu teatro..."


    Só tenho a agradecer a você LAR e a você Rose. Por manter vivo esta arte e nos manter vivos. Muita Luz, paz e axé. Que os deuses do teatro lhe abençoem sempre. No que o humilde bebe poder ajudar estarei aqui.


    Muita luz, paz e energia.

    Por Victor Meirelles.

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  3. Muito mais do que um espetáculo esplendoroso em cada pequeno detalhe...uma experiência de vida. Sensorial. Mágica. Única.
    Um trabalho lindo de parceria e sabedoria dessa equipe nota 1000.
    Frida como poucos conhecem e viva na pele de Rose Germano com todas as suas cores, dores. amores...
    Obrigada pelo presente.
    Espero que vocês continuem presenteando as pessoas com essa arte inenarrável e esse bate-papo pós peça enriquecedor...
    Casa cheia sempre:)
    Vida longa `a esse lindo trabalho!!!
    Parabéns a todos. Muito sucesso!
    Beijos com carinho
    Carol Castro

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  5. Parabéns `a atriz, ao diretor, autor, figurinista, cenógrafo, a todos voces que realizaram tão bonito espetáculo.
    A sensação que dá é que dali, partilha-se a intimidade criativa de Frida Kahlo, não do território da dor mas mais forte que isso da pujança do seu processo criativo.
    Esse resgate é mérito de vocês, obrigada por mostrar !!! Goya Castro

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  7. Frida Kahlo, A Deusa Tehuana.
    Crítica.
    José Eduardo Carneiro – Jornalista e ator.
    Frida Kahlo, A Deusa Tehuana, novo espetáculo do diretor Luiz Antônio Rocha e que está em cartaz noTeatro Gláucio Gil em Copacabana , mistura ironia,delicadeza e apresenta uma Frida mais humana e menos politizada. Rose Germano, atriz madura, empresta crueza e sarcasmo à sua composição e com um trabalho corporal invejável molda, em cena, uma personagem capaz de penetrar e seduzir a plateia ao falar de amores, dores e abandonos.
    A direção de Luiz Antônio simples e limpa permite-nos o surgimento de uma Frida quem em nada se assemelha a imagem da ativista ou artista mexicana vendida pela grande mídia. Essa nova composição obriga-nos a remexer em nossas tintas sensórias e construir, pintar, junto com Rose Germano uma nova possibilidade de uma alma quase desconhecida pelo grande público.
    Para isso a direção nos oferece um cenário lúdico assinado por Eduardo Albini, que ora lembra um jogo de “Lego” ou uma espécie de atelier intocável que parece existir apenas dentro das lembranças da Frida ali representada.
    Rose Germano é firme em sua atuação. Parece respirar com uma partitura e não permite que o espetáculo caia nas armadilhas das grandes representações teatrais. Mesmo quando vive em cena a exuberante Dolores Olmedo, figura influente no meio artístico e político mexicano, colecionadora e musa inspiradora do grande amor de Frida, Diego Rivera, a atriz suaviza o tom.
    Mas é em Frida que Rose constrói a figura da deusa com a tranqüilidade de uma artista que pincela lentamente, aquilo que, quadro a quadro vai virando cena e transformando-se em espetáculo. Frida Kahlo, A Deusa Tehuana é um projeto instigante e inspirador e esses dois ingredientes são fundamentais para uma bela obra.

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  8. O programa da peça já me impacta ao abrir e meus olhos se direcionam para a frase de Frida - "Bebo para afogar as minhas mágoas, mas as danadas aprenderam a nadar - entro no teatro e me preparo. Rose Germano entra e se transforma poderosamente em Frida Kahlo e aos poucos vai revelando um outro lugar dessa personagem já conhecida por sua pintura, fotografia, cores e misticidade. Começa a tirar do ícone para me revelar o humano através de suas dores, amores e Rivera, amor incondicional. E aí Frida nos fala da vida e a celebração dela. Então ela me põe junto dela e com ela. Através de vários simbolismos presentes no espetáculo de forma consciente e, em alguns casos inconscientes, revelados pelo próprio diretor Luis Luiz Antônio Rocha, o das cadeiras tem em mim o mais forte de todos, pois nas cadeiras se revela não só as muletas de Frida após o acidente, mas também o seu amparo, o equilibrar-se sobre a vida, a grande dança das cadeiras que é a vida! E quando Frida Kahlo canta sua dor ou sua vida, já estou mergulhado na mulher humana e literária e volto a colocá-la novamente como ídolo, mas transformado por tamanho amor! Parabéns Rose Germano e Luiz Antônio Rocha! Imperdível!!!!!! Eis o teatro!!

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  10. Belo espetáculo! A encenação, os figurinos e a interpretação da atriz acentuam a dramaticidade do texto e vão conduzindo o público espectador para o intenso mundo de Frida. Desta vez, Frida nos é mostrada pela talentosa Rose Germano, de tal forma que surpreende. Impressiona e emociona. A plasticidade do cenário, o colorido dos figurinos e a linguagem imagística e sensorial do texto preenchem alguns momentos de silêncio, durante o espetáculo (marca do encenador Luiz Antônio Rocha). É dentro desse contexto que cresce a Frida, intensa, dramática e emocionante. Chorei!!!!!! Parabéns encenador Luiz Antônio Rocha. Parabéns figurinista Eduardo Albini.e toda a equipe. Parabéns Rose Germano, grande atriz amiga.

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  11. "Frida chega à mim. Simplesmente chega. Chega no sentido de gera (dá origem, provoca o nascimento). Gera no sentido de proporciona, convoca, propõe e não saberia qualificar em adjetivos, superlativos, características. Não é bom e nem ruim, nem bem, nem mal. Não sei bem porque, mas acho que o espetáculo ajuda a derreter as coisas presas, duras e concretas da gente.
    Frida é uma obra aberta, uma exposição viva da artista e da mulher literalmente viva na cena. Viva e absolutamente entregue à Frida, à vida, ao outro e à si mesma. Até onde a atriz é capaz de ir? Dá vontade de acompanhar todos os espetáculos para ver cada dia mais e mais, mergulhar mais fundo pra nos descobrir mais e mais, porque eu tenho esse prenúncio ao assistir a peça: sei que vai longe, não sei pra onde, mas vai, como se me perdesse num abismo.
    Frida é um diretor apaixonado respirando junto. É um diretor que entende Frida, que tem Frida, que é Frida. Um diretor que propõe uma concepção de belo que é tão belo que dá vontade de dizer: Para! Eu quero ficar aqui! Impossível descrever em palavras a sensação estética que vi, faltam. Sinto vontade de lembrar daqueles quadros, os da cena. Frida tem uma estética e uma plasticidade avassaladora, soluções práticas, inteligentes e sensíveis.
    Prefiro MUITO mais o silêncio da sensação de ver Frida do que as minhas palavras.
    Diretor e atriz são generosos conosco e estão cumprindo a tarefa de sacudir a gente: eu, tu, ele, nós, vós, eles. Adoro me ver naquele espelho e levar esse tapa na cara, Adoro os pelos grandes da Rose (da Frida também, mas prefiro os da Rose…é ainda mais verdadeiro!), a gargalhada dela ao assistir o vídeo, as palavras…soltas e juntas e especialmente, especialmente o silêncio de Rose, de Frida e de Luiz. e o meu silêncio por tantas vezes quando parei pra lembrar de Frida."
    Muito amor e afeto à vocês,
    Gabi

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  12. Mergulhar na vida de Frida Kahlo é um ato de coragem.
    Transcender a história de Frida Kahlo é algo quase impensável.

    Acontece que, quando se fala de arte, tudo é possível. É com imensa sensibilidade e com a sabedoria dos contrários entre o forte e o frágil que Rose Germano e Luiz Antônio Rocha revelam a mulher Frida Kahlo. A mulher que rasteja implorando por doses de vida e tragadas de amor.

    "Frida Kahlo A Deusa Theuana" é um dos raros momentos de teatro que precisamos experimentar. Um espetáculo que justifica a paixão pelo fazer teatral, onde tudo se harmoniza. Um trabalho que espelha beleza nos sabores mais amargos e azedos.

    Há tanta dor em seu canto, mulher!
    Obrigada por marejar os meus olhos e embargar a minha voz, volto pra casa mais forte.

    Erlene Melo.

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